Bancos de dados para a implementação do RDA

Bancos de dados para a implementação do RDA: bancos de dados relacionais ou orientados a objeto

O Resource Description and Access (RDA) foi (e está sendo) desenvolvido pelo Joint Steering Committee (JSC). Dentre a documentação utilizada pelo JSC está o documento RDA Database Implementation Scenarios, que descreve três cenários para a implementação do RDA.

Já faz algum tempo que iniciei uma série de posts sobre esses três cenários:

Seguindo o post sobre o Cenário 2, falei um pouco sobre o FRBR e sobre o armazenamento de registros MARC 21. Tendo esses dois textos como background, finalizarei a série abordando neste post o Cenário 1 “Estrutura de banco de dados relacional ou orientado a objeto”.

Pretendo não entrar em detalhes técnicos sobre os bancos de dados relacionais e orientados a objeto. Tentarei mostrar mais ou menos como ficariam os dados registrados com o RDA nesse cenário.

Cenário 1: Estrutura de banco de dados relacional ou orientado a objeto

Assim como acontece no Cenário 2, os registros nos bancos de dados do Cenário 1 estão relacionados de forma explícita, ou seja, existem links entre os registros.

Cenário 1: Estrutura de banco de dados relacional ou orientado a objeto
Cenário 1: Estrutura de banco de dados relacional ou orientado a objeto

As vantagens que os relacionamentos entre os registros trouxeram ao Cenário 2 (facilidade na navegação, na busca e na gestão do catálogo) também estão presentes no Cenário 1.

O diferencial em relação ao Cenário 2 é que os dados que antes estavam divididos entre registros bibliográfico, de autoridade e de item agora estão divididos em registros de obra, expressão, manifestação, item, pessoa, entidade coletiva, etc.

Podemos dizer que há uma quebra na arquitetura do registro bibliográfico atual, sendo que os dados antes presentes em um único registro agora encontram-se distribuídos em diversos registros relacionados entre si (obra-expressão, expressão-manifestação, manifestação-item).

Essa estrutura, associada às tecnologias utilizadas na criação dos bancos de dados, permite fazer com que novos registros (de obra, de expressão, de manifestação, de item) possam ser adicionados fazendo uso dos dados já presentes no banco de dados.

Vamos a um exemplo!

Em sua instituição há um exemplar contendo a 1ª edição em português do livro “Introdução à retórica”. Esse recurso já está catalogado. Hoje você recebeu um exemplar contendo a 2ª edição desse recurso. É necessário catalogar o recurso recém chegado. O que provavelmente você fará:

No cenário 2: Criará um novo registro bibliográfico que, provavelmente, não estará vinculado ao registro bibliográfico representando a edição anterior. Você pode copiar o registro de outro catálogo ou então duplicar o registro e realizar as alterações necessárias. O resultado será: dois registros bibliográficos, cada um vinculado aos seus itens e aos registros de autoridade (nomes e assuntos).

Registros bibliográficos, de itens e de autoridade
Cenário 2: Dois registros bibliográficos, cada um vinculado aos seus itens e aos registros de autoridade.

No cenário 1: Acrescentará um registro de manifestação e o vinculará à expressão em português. Ao registro da manifestação será vinculado o registro do item.

Registros de obra, expressão, manifestação e item
Registros de obra, expressão, manifestação e item.

Diferentemente do Cenário 2, no Cenário 1 não há a necessidade de duplicar certos dados. Você não precisa criar um registro contendo títulos, autores, assuntos, etc. que já estão presentes em outro registro. Essas dados são comuns a todos os itens, manifestações e expressões de uma obra. Assim, se no registro da obra consta que o criador é Olivier Reboul, não é necessário que esse dado conste no registro de cada manifestação dessa obra.

Evitar a duplicação de dados ou de tarefas, no entanto, não é a principal questão que nos leva a pensar em um banco de dados bibliográficos modelado com o FRBR, como o mostrado no Cenário 1.

O conjunto de relacionamentos bibliográficos definido no FRBR e as tecnologias para a construção de bancos de dados podem prover aos usuários dos catálogos maiores possibilidades de navegação entre os dados catalográficos e, portanto, maior capacidade na descoberta de recursos informacionais. Essa sim deve ser uma das principais questões consideradas na modelagem de banco de dados utilizando como base o modelo conceitual FRBR.

Meu catálogo está em qual cenário?

Rotular um banco de dados bibliográficos como pertencente a um cenário não é algo simples, pois não basta observar somente os aspectos tecnológicos (não é porque o seu banco de dados é relacional que ele está no Cenário 1). É possível que o banco de dados possua características que o enquadrem em um determinado cenário, ao mesmo tempo em que outras características o enquadrem em outro.

O banco de dados utilizado no OpenBiblio é um exemplo:

  • Não possibilita registros de autoridade, consequentemente não é possível vincular de forma explícita os registros bibliográficos aos registros de autoridade, por isso pode ser caracterizado como pertencente ao Cenário 3;
  • Possibilita o vínculo entre registros bibliográficos e registros de item, o que o pode caracterizá-lo como pertencente ao Cenário 2;
  • É construído utilizando a tecnologia dos bancos de dados relacionais, o que pode categorizá-lo como pertencente ao Cenário 1.

Assim, além de trazer algumas ideias sobre a implementação do RDA, podemos dizer que os três cenários atuam também como linhas gerais para a análise ou para a modelagem de bancos de dados bibliográficos, independentemente da utilização do RDA ou do FRBR.

Aplicação dos FRBR na modelagem de catálogos bibliográficos digitais
Para saber mais sobre a utilização do FRBR na modelagem de bancos de dados você pode consultar o livro Aplicação dos FRBR na modelagem de catálogos bibliográficos digitais .

Para finalizar este post deixo um pensamento:

Você pode apresentar o catálogo de seus sonhos, com o menor detalhe de sofisticação incluído nos dados e em sua organização, mas, se as pessoas não o utilizarem porque não gostam dele ou porque não entendem seu funcionamento, então seu esforço terá sido bem e verdadeiramente desperdiçado.

Bryant (1982, p. 3)

Referências

Bryant, P. The library catalogue: key or combination lock? Catalogue & Index, v. 67, p. 1-7, Winter 1982.

Delsey, T. RDA Database Implementation Scenarios. [S.l.]: Joint Steering Committee for Development of RDA, 2009.

Mey, E. S. A. Catalogação e descrição bibliográfica: contribuições a uma teoria. Brasília: ABDF, 1987.

Fabrício Assumpção

Bibliotecário na BU/UFSC. Bacharel em Biblioteconomia, mestre e doutor em Ciência da Informação.

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