Bancos de dados para a implementação do RDA

Bancos de dados para implementação do RDA: estrutura flat file

O Resource Description and Access (RDA) foi (e está sendo) desenvolvido pelo Joint Steering Committee (JSC). Dentre a documentação utilizada pelo JSC está o documento “RDA Database Implementation Scenarios“, de autoria de Tom Delsey.

Os cenários descritos nesse documento têm como objetivo apenas ilustrar algumas das potenciais implementações dos dados criados com o RDA em diversas estruturas de bancos de dados.

O documento descreve três cenários:

O principal motivo pelo qual decidi por abordar esses três cenários aqui no blog está na oportunidade de melhor conhecermos as estruturas dos catálogos (antigos, atuais e futuros) e refletirmos sobre as mesmas.

Ressalto que é de extrema importância que o catalogador conheça as estruturas dos catálogos (ao menos a do catálogo com que ele trabalha), pois essas estruturas estão relacionadas à própria catalogação, às vezes condicionam a atividade do catalogador e, certamente, influem sobre a relação usuário-catálogo, mais precisamente, no modo com que o usuário recupera a informação por meio das possibilidades de busca e de navegação.

Para tornar a explicação dos três cenários mais compreensível e esclarecedora, dedicarei três postagens ao tema, começando hoje pelo Cenário 3, o qual entendo como o mais simples.

Cenário 3: Estrutura de banco de dados “flat file” (sem vínculos)

O Cenário 3, embora seja encontrado também em catálogos digitais, ilustra uma estrutura a muito tempo conhecida na catalogação: a dos catálogos de fichas. Para compreender esse cenário, retomaremos um pouco a estrutura desses catálogos.

De modo geral, cada ficha (ou mais de uma, caso a descrição exceda os 7,5 x 12,5 cm) contém a descrição bibliográfica de um recurso informacional e um ponto de acesso autorizado (cabeçalho) que permite à descrição ser encontrada no catálogo.

Em um catálogo de fichas, as fichas representando dois ou mais recursos informacionais associados a uma mesma pessoa, entidade coletiva, conceito, etc. (dois livros escritos por um mesmo autor, por exemplo) serão dispostas (arquivadas) de forma subsequente, seguindo uma alfabetação.

Nesse caso, por mais que as fichas estejam próximas, não há qualquer vínculo explícito entre elas, cabendo ao usuário a tarefa de notar a semelhança existente. Assim, cabe ao usuário traçar conscientemente ou inconscientemente o relacionamento existente entre os recursos.

Se o usuário tem à disposição um arquivo de autoridade como um instrumento de apoio à utilização do catálogo, ele pode checar em tal arquivo qual o ponto de acesso adotado pela instituição para uma determinada pessoa, entidade coletiva, conceito, etc.

Se o arquivo de autoridade está construído sobre a tecnologia da ficha catalográfica (sim, a ficha catalográfica é uma tecnologia!) não há vínculos explícitos entre um ponto de acesso autorizado do arquivo de autoridade e as fichas do catálogo, cabendo novamente ao usuário a tarefa de traçar os relacionamentos.

As remissivas “ver” e “ver também”, se inseridas no catálogo ou no arquivo de autoridade, atuam de forma semelhante: indicam vínculos não explícitos.

Deixar ao usuário a tarefa de traçar o relacionamento existente entre duas ou mais fichas catalográficas parece-me que foi a solução mais adequada dentre as existentes no contexto tecnológico da criação dos catálogos de fichas.

Para entender a estrutura do banco de dados do Cenário 3 basta transpor um catálogo de fichas para o ambiente digital, com alguns “ajustes terminológicos”, claro. No ambiente digital, chamaremos as fichas catalográficas de “registros bibliográficos“, os vínculos explícitos de “links” e o catálogo de “banco de dados“. Dessa forma, os bancos de dados do Cenário 3 contêm registros sem links entre si.

Tradução de Delsey (2009, p. 5) – * Os atributos indicados com asterisco (*) são definidos no RDA como “core elements” (elementos essenciais). É recomendado que tais elementos seja registrados se forem aplicáveis a entidade que está sendo descrita. Os registros de autoridade de nome-título são utilizados para pontos de acesso de representando obras e expressões.

No Cenário 3 não há links entre registros bibliográficos e de autoridade, nem entre os registros de autoridade. Os registros são dispostos em uma mera listagem, assim como as fichas são ordenadas em uma gaveta. Nesse Cenário, o arquivo de autoridade pode estar em outro banco de dados, em outro armário (no caso da utilização de fichas) ou ser uma lista impressa de cabeçalhos de assunto.

No ambiente digital, os links entre os registros podem oferecer algumas vantagens, como veremos nos cenários 1 e 2. A não utilização desses links, como ocorre no Cenário 3, apresenta algumas desvantagens, dentre elas o fato de que, caso seja necessário atualizar um ponto de acesso autorizado (inserir uma data de nascimento ou de morte de um autor ou alterar o termo escolhido para representar um conceito, por exemplo) será necessário atualizar todos os registros bibliográficos em que o referido ponto de acesso autorizado está registrado, o que pode demandar muito tempo e esforço.

O fato dos bancos de dados do Cenário 3 não apresentarem links (relacionamentos) entre os registros faz com que sejam chamados de “flat file databases” (bancos de dados de arquivo simples). Os bancos de dados que estabelecem links entre registros bibliográficos e de autoridade estão enquadrados no Cenário 2, o qual será abordado em uma postagem futura.

Referências

BURGER, R. H. Authority work: the creation, use, maintenance, and evaluation of authority records and files. Littleton: Libraries Unlimited, 1985.

DELSEY, T. RDA Database Implementation Scenarios. [S.l.]: Joint Steering Committee for Development of RDA, 2009.

JIMÉNEZ PELAYO, J.; GARCÍA BLANCO, R. El catálogo de autoridades: creación y gestión en unidades documentales. Gijón: Trea, 2002.

Imagem utilizada para a ficha catalográfica: “Found” por idogcow.

Fabrício Assumpção

Bibliotecário na BU/UFSC. Bacharel em Biblioteconomia, mestre e doutor em Ciência da Informação.

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