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Possibilidades reflexivas sobre gênero na estruturação do ponto de acesso

O e-book Memória, tecnologia e cultura na organização do conhecimento, quarto volume da série Estudos Avançados em Organização do Conhecimento, trouxe os trabalhos apresentados no IV Congresso Brasileiro em Organização e Representação do Conhecimento, realizado em setembro de 2017 em Recife.

Um desses trabalhos é Possibilidades reflexivas sobre gênero na estruturação do ponto de acesso na Catalogação: entre a delimitação das regras e a amplitude da representação (p. 325-333), de autoria de Brisa Pozzi de Sousa, Gustavo Silva Saldanha e Vinicius de Souza Tolentino.

A construção de ponto de acesso de nome pessoal em registros bibliográficos é o foco deste trabalho, a partir do delineamento sobre a temática gênero no contexto da Organização do Conhecimento (OC). Reconhecer as dinâmicas absolutamente desiguais e sob camadas de opressão e divisões socialmente concretizadas reflete como o domínio expõe as fraturas de seus dilemas classificatórios. O impacto social dos modelos classificatórios no campo da OC demarca a urgência da reflexão crítico-social sobre suas práticas, teorias e métodos, pois impacta, diretamente, também as práticas de representação descritiva, pois a pretensa neutralidade que sustenta as regras catalográficas necessitam ser discutidas. Sendo assim, a investigação tem como objetivo abordar o ponto de acesso pelo olhar do nome social e demostrar como o instrumento documentário utilizado no Brasil, o AACR2r, para construção desses pontos é estruturado pelo aspecto que intenciona a invisibilidade da temática. Ademais, também é demonstrado como o enfoque de gênero pode ser arrolado em sobrenomes que vinculam grau de parentesco feminino como Neta, Filha e Sobrinha também na construção dos pontos de acesso em registros no catálogo on-line de autoridade da Biblioteca Nacional (BN) do Brasil.

Alguns trechos que destaco deste trabalho são:

“Esses aspectos evidenciam que a construção do ponto de acesso compõe lugar de destaque na Catalogação e no ato de catalogar e não deve ser encarado como um simples procedimento de repetição, pois demanda reflexão e construção de relacionamentos que propiciarão além do acesso, a padronização de nomes para o registro bibliográfico. Em outros termos, o nome próprio ganha, na teoria catalográfica, uma centralidade que atravessa o plano epistemológico, sendo fruto das convenções nacionais criadas provocando consequências no contexto sociocultural na determinação de nomenclaturas.” (p. 327)

“No caso do registro da Nany People, quais remissivas se fariam necessariamente importantes para a recuperação desse ponto de acesso? O registro da remissiva ‘Santos, Jorge Demétrio Cunha’ demarca desconhecimento ou distanciamento das discussões de gênero na representação descritiva? Conforme apontado, esse exemplo reflete a neutralidade científica que o discurso catalográfico carrega em sua concepção, em que se constroem representações de registros a partir de documentos sem relacionar as peculiaridades para cada elaboração de ponto de acesso.
Não se considera Nany People pseudônimo, pois é a forma escolhida como identidade de gênero.” (p. 331)

O trabalho completo está disponível em http://isko-brasil.org.br/wp-content/uploads/2013/02/livro-ISKO-2017.pdf (p. 325-333).

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Fabrício Assumpção

Bibliotecário na BU/UFSC. Bacharel em Biblioteconomia, mestre e doutor em Ciência da Informação.

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